terça-feira, 6 de abril de 2010

E porque hoje é terça-feira...


De mini-saia,
elas saem à rua.
Faça chuva,
faça sol.
Lance de perna,
perna nua.
Calçada turva,
são um farol.

segunda-feira, 5 de abril de 2010

Era uma vez um céu azul...


Ahhhh... que saudade. De um dia de sol. Já lá vão alguns meses sem um dia inteiro de sol. Sem um céu azul. Nem me lembro quando vi pela última vez um céu azul. Macau deve ter o clima mais estranho do mundo. Uma espécie de neblina-chove-não-molha perdura por estas paragens. Há quem lhe chame o 'capacete' de Macau. Um 'capacete' deprimente à brava...

sábado, 3 de abril de 2010

Coelhinho da Páscoa!



O coelhinho da Páscoa é um porreiraço. Amêndoas há muitas e mini-saias assim também!
Boa Páscoa!

segunda-feira, 15 de março de 2010

Mini-saia da noite!


Faz muito calor à noite em Macau. Uma chatice...

sexta-feira, 5 de março de 2010

Presentinho de fim-de-semana


Está inaugurado o capítulo das mini-saias de olhos em bico. Começamos por uma colega de trabalho. Pummmmmm!!! Pummmmmmmmmmmmm!!! Puuuuuuuuuuuuuuuuuummmmm!!!!
(é o fogo de artifício)

domingo, 28 de fevereiro de 2010

Belas mini-saias

Encontrei estas meninas por acaso no meio de um centro comercial na Taipa. Estilo dois-em-um. Artistas de mini-saia.


Este vídeo vale muito a pena!

terça-feira, 23 de fevereiro de 2010

Kung Hei Fat Choi e Lai-si Tau Loi


Aconteceu a primeira vez. Entrar no ano duas vezes. Uma em 2010. Outra no ano do Tigre. Em 2010 foi igual a tantas outras. Tirando a geografia e a companhia nos festejos. Jantar bem regado. Meia-noite. Champanhe. Fogo-de-artifício. Madrugada dançante. Gin-tónico a descer. Ressaca a condizer. Depois veio o Tigre. Mês e meio mais tarde. A verdadeira passagem de ano chinesa.

Começou dias antes. 7h00. Dormia como um menino em Macau. Quando acordo no meio de Kabul ou da Faixa de Gaza. Rá-tá-tá-tá-tá-tá-tá-tá-tá... pummmmm! Tenho sono leve. Mas esta merda acordava qualquer surdo. Foi dentro do prédio. Horas mais tarde comentei com alguém no trabalho e percebi tudo. O ano está a chegar ao fim e vai daí a vizinhança rebenta panchões de pólvora à porta de casa para espantar os espíritos. Assim eles não entram por ali dentro no ano novo. Parece-me justo. Entre descanso nocturno e espíritos à solta é de evitar a última hipótese. Apenas um pequeno problema. Os espíritos dos chineses nunca mais acabam.

Fui ver o fenómeno de perto. O Governo aqui da terra tem por hábito montar um recinto onde as pessoas se deslocam em romaria. Seja noite, seja dia. Faça chuva, ou faça sol. À falta de nome próprio chamemos-lhe 'panchódromo'. E o que é o 'panchódromo'? Um parque de diversões para crianças e adultos onde se vende pólvora. Muita pólvora! Desde aqueles inofensivos estalinhos de carnaval a rocket's de alcance considerável. Entre os tradicionais panchões, uns cartuchos de pólvora revestidos a papel vermelho. Rapidinhos ou intermináveis. A oferta é generosa. Compra quem quer. Pais incentivam filhos. Filhos choram por mais. Os pais compram mais. Ninguém regateia na hora de espantar espíritos. E há quem fume cigarros em ambiente explosivo apesar de ser proibido.

Vai-se ao 'panchódromo' como quem vai a Fátima pagar promessas. Nos altifalantes ouvem-se instruções de segurança em chinês, português e inglês. Só vi olhos-em-bico. É difícil descrever o som com palavras mas se fechar os olhos não é difícil imaginar um cenário de guerra. Guerra aos espíritos. Alguns dos engenhos assobiam. Outros começam tímidos e acabam potentes. Os tímpanos reclamam a cada berro de rebentamentos. Em termos de décibeis ganham os panchões. Ecoam por todo o lado. Iguais àquele que atravessou os meus sonhos. Rá-tá-tá-tá-tá-tá-tá-tá-tá... pummmmm!

Fiquei a ver o espectáculo durante um bom bocado. Fui apenas espectador. Intrigado. Entusiasmado. Às vezes aparvalhado. Quando pedaços de cana caiam a menos de um metro do local onde estava. Acendi pivetes de incenso e não rebentei nada. Não acredito em espíritos. O 'panchódromo' fez-se ver e ouvir durante dias. E durante dias a cidade foi absorvida por turistas. Hotéis esgotados. Casinos lotados. Ruas apinhadas. Restaurantes reservados há semanas. Gente. Gente. Gente que nunca mais acaba. Disseram-me que há dez anos fechava quase tudo durante os feriados do Ano Novo Chinês. Hoje o capitalismo fala mais alto. Há gente, há dinheiro, há negócio. E o chinês é danado para o negócio.

Lembram-se dos coelhos do Festival da Lua? Substituidos por tigres. Os chineses relacionam cada novo ano a um dos doze animais que teriam atendido à chamada de Buda para um encontro. Doze compareceram. Buda, feliz e contente da vida e comovido com a presença do rato, do búfalo, do tigre, do coelho, do dragão, da cobra, do cavalo, da cabra, do macaco, do cão e do javali... transformou-os nos signos da astrologia chinesa. Ficou para trás o búfalo e entramos então no ano do tigre. Em Macau há bonecada espalhada pela cidade. Rotundas. Avenidas. Praças. O felino anda à solta. E cuidado com as garras da fera. Respeitinho. O horóscopo chinês lança sérios avisos à navegação, num ano de tempestades. É, por exemplo, um ano impróprio para casamentos. Uma amiga chinesa adiou a cerimónia para 2011 por causa disso mesmo. Sobrou para o coelho. Poucos arriscam casar no Ano do Tigre. Adivinham-se matrimónios atribulados. Uns anteciparam. Outros adiaram. Padres suaram e fizeram cálculos às datas.

Curiosa é também a meteorologia por esta altura. Frio que dói. Húmido e gelado. Custa estar em casa. A qualidade de construção em Macau é privilégio dos edifícios mais recentes. A roupa não seca. As paredes brancas ganham cor. O guarda-roupa adquire vida própria. Um bolorzito aqui e ali. Um dia antes do ano novo andava de t-shirt. Passaram os três feriados e a Sibéria já mora um bocadinho mais longe. É sempre assim nesta altura do ano. Sempre. Não falha, garantem. Por isso e pela invasão massiva de visitantes muitos portugueses e alguns locais desaparecem de Macau e refugiam-se na Tailândia. Filipinas. Vietname. Malásia. Num-sítio-qualquer-onde-não-faça-frio-e-haja-praia-por-perto. Naquele conforto dos mergulhos em águas quentes. Embora viajar nesta altura seja um assalto à carteira. Esgota tudo em pouco tempo.

Eu fiquei. Queria ficar, ver e absorver a festa chinesa. Ver gente a queimar pivetes de incenso e notas falsas. Na rua e nos templos. A fortuna para os antepassados foi tanta que houve notícia de um incêndio num santuário. Nada de grave a registar. Vai-se pedindo sorte, felicidade, longevidade, riqueza... por aí fora. Sempre em tons de vermelho e dourado. Volta e meia entregam-se pequenos envelopes com uma nota lá dentro. O famoso lai-si. Deseja-se 'Kung Hei Fat Choi' – 'Feliz Ano Novo Lunar'. Responde-se com 'lai-si tau loi!' – 'passa para cá o lai-si!' Casados oferecem aos solteiros. Sinónimo de fortuna para ambos os lados. Cheira-me que a balança desiquilibra para o lado dos solteiros. Recebi uns quantos. Pelo meio dei por mim em almoços tradicionais de ano novo, com sorteios. O lucky draw. Num deles calhou-me um par de garrafas de tinto. Houve quem não levasse nada para casa. Houve quem levasse sofás de massagens. Viagens. E placas de fogão. Placas de fogão!? Sim. Placas de fogão.

O vinho serviu para celebrar a chegada daquele objecto de culto tão desejado. Desejado há meses. Finalmente chegou. Sim!!! Chegou. Adivinhem lá? Isso mesmo. O meu novinho iPhone. Prontinho a capturar mini-saias por essas ruas fora. Estou agora mais perto do sapiens-tecnológicus que não vive sem smartphone. Mais perto dos deuses... afinal acendi uns incensos. E depois desta crónica, mais perto de vocês. Dos amigos e da família. Fazem-me falta, calalho! Se esclevel em chinês não é palavlão, pois não?

Kung Hei Fat Choi

* Crónica publicada no portal Observatório do Algarve a 22 de Fevereiro de 2010.

Espantar espíritos no 'panchódromo'



Guerra aos espíritos no 'panchódromo'.


Barulho no 'panchódromo'.


Criançada e a pólvora.

Ano Novo Chinês em imagens

O Tigre à solta no Leal Senado.

"Há por aí algum espírito?"

Lanternas no Leal Senado.

Tendas de pólvora no 'panchódromo'.

Rocket's e derivados no 'panchódromo'.

Decoração no Hotel Lisboa.

terça-feira, 1 de dezembro de 2009

Mini-saias!!!



Vrrrrrrrrrruuuuuuuuuuuuuummmmmmmmm! Prometido é devido não é? Por isso aí vai um chorrilho de mini-saias, mini-shorts e sorrisos orientais. O Grande Prémio de Macau tem muitas curvas e pouco tecido. E algumas máquinas... Será muito cedo para um presentinho de Natal?
















quinta-feira, 22 de outubro de 2009

Um dia a casa vem abaixo...

Está a ser um dia como outro qualquer na redacção onde trabalho.


domingo, 18 de outubro de 2009

Televisão em movimento


A música de fundo é sem dúvida espectacular. No banco da frente, dois câmaras. No banco de trás, três jornalistas. Duas colegas da TDM. Todos juntos em reportagem. Acabadinhos de vir do palácio do Governo.

sábado, 10 de outubro de 2009

Entre a lua de Macau e a piscina dos sonhos



Ainda não é desta que há mini-saias. Lamento por mim e por vocês. Mais por vocês. Afinal de contas vejo este fogo-de-artífico de tecido reduzido todos os dias. Mas a culpa não é minha. Está esgotado. E-S-G-O-T-A-D-O. E quando uma coisa esgota em Macau é o sabe-se lá. Sabe-se lá quando. “No mole, soly”. Quando vão ter? “No mole i-Phone, soly. Waiting list.” Sim. Eu sei. Tinha comprado aquele em Zhuhai. Mas não é a mesma coisa. Parece muito mas não é. Funciona na perfeição. Tirando um par de coisas que me fazem falta. Incluíndo uma boa câmara. Soly, no mini-skilts fol now. Não vou andar por aí de máquina em punho a fotografar mini-saias e pernas desnudas. Tem de ser de soslaio.

Não há mini-saias mas há bolos lunares. Começou há coisa de uma semana o Festival da Lua. Há coisa de duas semanas comecei a ver coelhos. Em rotundas, avenidas, praças. Por todo o lado. Coelhos coloridos. Grandes. Pequenos. Muitos. Há coisa de um par de dias tive uma das experiências mais desagradáveis em termos de paladar. O bolo lunar. 月餅. Pinyin. Esse projecto de bolo. Mas vamos primeiro ao Festival da Lua. Acontece ao décimo quinto dia do oitavo mês lunar do calendário chinês. Quando a lua está cheia. Serve para comemorar a colheita do Verão. Celebrar o fim da ocupação mongol. E para destruir o estômago. Mas isto é apenas a minha opinião. Bolas. Ok. Estou a mentir. Vou citar-vos as sugestões da Time Out Hong Kong sobre o que fazer aos bolos lunares que ficaram por comer. 1 – Grind them into a mash and use them to stucco the cracks in your crappy apartment's walls. 2 – Mash them up and feed them to your baby – babies will eat ANYTHING. 3 – Soak them in LSD and sell them at parties. 4 – Use them to fuel your car. [A minha favorita] 5 – Dont worry. They will be gone by sunrise. Such is their way. Agora a tradução. Algo parecido com isto. 1 – Misture-os numa pasta e use-os como estuque para tapar as assustadoras fendas do seu apartamento. 2 – Faça um puré e alimente o bebé. Bebés comem QUALQUER COISA. 3 – Derreta-os com LSD e venda-os em festas. 4 – Use-os como combustível para o carro. 5 – Não se preocupe. Eles desaparecem com o nascer do sol. É a sina deles.

São horríveis. Mesmo horríveis. Aparentemente inofensivos. Simpáticos. Bonitinhos por fora. Que nem muffins do Starbucks. E na boca? Aaaaaarrrrghhhh. Horripilantes. Pastosos. Maçudos. Intragáveis. Com o extra da cereja no topo do bolo ser uma gema de ovo de pato no interior. O palato chorou. Ainda chora quando me lembro.

Mas nem tudo são lágrimas. O Festival da Lua é bonito. Ruas enfeitadas. Os tais coelhos coloridos. Frutos pendurados nos postes de iluminação. Lanternas acesas a flutuar nos lagos. Magotes de turistas a comprar... bolos lunares. Enfim. Mais agradável é a temperatura. Finalmente. Finalmente consegue-se respirar na cidade. Foram meses a fio de sufoco. Temperatura máxima constante nos 35 graus. Temperatura mínima raramente a baixar dos 29. Mais a puta da humidade que se entranha no corpo. Sempre gostei de calor. Mas 29 graus de temperatura mínima é dose. Difícil de suportar. Nesta altura está fresquinho. Fresquinho é a máxima a rondar os 32. A mínima a bater nos 25. A puta da humidade – desculpem lá a coisa mas não há cerimónias para a humidade – também desceu um pouco. Estou neste preciso momento a escrever no segundo andar do duplex. Janela aberta. Ar condicionado desligado. Mas no andar de baixo continuo a precisar do ar fresco da máquina para dormir. Durante toda a noite. O que faz qualquer conta de electricidade em Portugal parecer uma ninharia.

Vá lá que descobri um paraíso na ilha da Taipa para os dias de maior aperto. À distância de uma ponte e de um mini-bus gratuito. Pssssssstttt. Vou dizer baixinho. Segredo. Fica só para nós. É a piscina do Hard Rock. Um hotel no meio de um mega-complexo chamado City of Dreams. Daqueles onde tudo é possível. Pois bem. É possível estar refastelado numa espreguiçadeira de praia em cima de areia branca entre arranha-céus. Ter a piscina ali ao lado. Beber cosmopolitans dentro de água. Rodeado de palmeiras e boa música. Dar mergulhos e continuar a ouvir a música debaixo de água. É mesmo o máximo. Mas... pssssssssstttt. Não conte a ninguém. É que durante a semana somos meia-dúzia de gatos-pingados. Com desconto de 50 por cento. Sete euros e meio são pechincha para tamanho paraíso escondido nesta selva de cimento e gradeados que é Macau.

Por falar em pechinchas, voltei a Zhuhai. Esse submundo do falsificado de qualidade superior. Mais um quadro para dar cor às paredes. Uma réplica a óleo de um artista contemporâneo chinês. Yue Mijun – uma espécie de estilo 'Political Pop'. Um fora-de-série. O artista e quem fez a réplica. Em Zhuhai qualquer um é pequenote num quarto de brinquedos. É entrar numa loja. Perguntar pelo Miguel. Dar de cara com um chinês que fala português. Ser conduzido a uma sala secreta. E esbarrar em todas novidades do cinema e as séries de televisão mais recentes. É sair de lá com cinquenta filmes e vários pacotes de séries por poucas centenas de Yuans. Poucas dezenas de euros. É mandar a FNAC e a suposta política de preços baixos à merda.

O pacote de novas aquisições de Zhuhai incluí ainda uma t-shirt com uma chinesa ousada estampada. Não de mini-saia mas de vestido... ousado. Sempre é uma amostra do que por aqui anda. Enquanto escasseiam as fotos... ousadas.

Há muito mais para contar mas terei de ficar por aqui. Passei muito tempo sem escrever. Eu sei. Prometo mais para breve. Andei ocupado a pensar. A viver. A fazer um balanço de 30 anos. Recentemente celebrados em Macau. Tem algum significado fazer 30 anos? Não faço a mínima ideia. Tudo parece igual. Olho para trás e sorrio. Sorrio sempre e também choro às vezes. Deve fazer parte. Andar por aí ao sabor do vento sem destino tem dessas coisas. Um dia confessei padecer de obesidade afectiva. Recordar família e amigos à distância é sempre pesado. É quando a lágrima aparece. Da mais pura nostalgia. O relógio marca 03:57. Ainda vou a tempo de sair de casa e desejar os parabéns ao meu sobrinho. Coisas do fuso-horário. Tenho de descer a rua até à cabine telefónica mais próxima. Apanhar a família à hora de jantar. Mas isso nem custa tanto. Custa mesmo é estar ausente. Nos últimos dois anos telefonei-lhe de Paris. De Para Sempre Paris. Desta vez é de Macau.

É difícil amar à distância. Mas um dia alguém disse que o mundo é um lugar estranho.

* Crónica publicada no portal Observatório do Algarve a 12 de Outubro de 2009.

Festival da Lua, coelhos e Hard Rock

Coelho na Rua Francisco Xavier Pereira.

Mais um dos coelhos da Rua Francisco Xavier Pereira.

Tai-Chi no Tap Seac num destes dias de Festival Lunar.

Largo do Leal Senado em pleno Festival Lunar.

Arranha-céus do Hard Rock Macau.


A delícia do Hard Rock no City of Dreams.

Yue Mijun. Arte 'Political Pop'. Na parede cá de casa.

Camisola de Zhuhai e o vestido chinês.


Reportagens de olhos em bico!


A minha colega com o micro da concorrência. Não estava de mini-saia.

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O ambiente da conferência de imprensa. Mas atenção. Uma conferência de imprensa muito típica em Macau. Apanho com isto todos os dias.

sexta-feira, 7 de agosto de 2009

Hong Kong, Zhuhai e iPhone's


Comprar o novo iPhone 3G-S. Foi o que me levou a Hong Kong no primeiro dia de folga. Andar de iPhone a tiracolo dá um jeito enorme. É estético. Dá para fotografar as famosas mini-saias. Pintar um quadro. Encontrar um atalho. Tudo e mais alguma coisa. Incluindo fazer chamadas. No dia anterior reservei bilhete de ida e volta através da empresa onde trabalho. Assim fica a metade do preço. Regalias. Macau está a 60 quilómetros de Hong Kong. Menos de uma hora de barco. Levanto-me cedo. Pequeno-almoço no café da esquina. Pastelaria ocidental num franchising da Nova Zelândia e caro. Noodles, vegetais e companhia saem barato pela manhã. Mas o estômago continua maricas. Levanto Hong Kong Dollars no Banco Nacional Ultramarino. Patacas não servem de nada no outro lado do Delta do Rio das Pérolas. Apanho um táxi e rumo ao Terminal Marítimo.

As formalidades são as mesmas de qualquer aeroporto. Check-in. Controlo de passaporte. Sala de embarque. Muitas máscaras anti-gripe-suína. O Turbo Jet é porreiro e garante conforto. Tenho o guia de Hong Kong na mochila. Por lá permaneceu durante toda a viagem. Não tirei os olhos do horizonte. Ilhas. Ilhotes. Uma praia aqui. Outra acolá. Pedaços de areia inalcançáveis. São todos em território chinês. Não há maneira de lá chegar de barco, a partir de Macau, sem atropelar a legalidade. Esqueço as ilhas. Os ilhotes. E por esta altura o poderoso skyline de Hong Kong trespassa-me a retina. Poderoso e avassalador. Construção massiva. Arranha-céus por todo o lado. Metrópole com sete milhões de almas. Centro financeiro do sudeste asiático.

Mais formalidades a cumprir. Entre as básicas preencher um papelito onde se faz um relatório sobre eventuais contactos com infectados de H1N1. Tirando o contágio televisivo diário... zero. Desembarco não sei onde. Não faço ideia. Café e dois dedos de conversa em inglês resolvem o problema. Chegar ao centro está apenas a uma paragem de metro. Central. Onde coabitam os arranha-céus mais populares. Caminhar em Hong Kong é andar de cabeça levantada. Contemplar os desafios da arquitectura moderna. Atravessar passadeiras aéreas com quilómetros. Deambular entre milhares de olhos-em-bico. Massivo. Calor e humidade a condizer. Ando uma boa hora sem destino. Até descobrir uma simpática galeria de arte. Até descobrir um ar condicionado. 35 a 40 graus de Verão em Portugal equivalem a uma lufada de ar fresco por estas paragens. Apreciei arte até refrescar em condições. E ainda recebi algumas dicas sobre como encontrar a tal loja que vende iPhones desbloqueados.

Duas paragens de metro. Causeway Bay. Mais arranha-céus do outro mundo. Preços do metro quadrado a rivalizar com Tóquio e Nova Iorque. Porque se trata de uma visita de médico com barco de regresso marcado não há grande tempo a perder. A tal loja fica no nono andar de um mega centro comercial chamado Times Square. O balde de água fria também por lá mora. “Não vendemos iPhones desbloqueados. Só com contrato de permanência na rede”. Descarrego a desilusão na livraria do lado. Encontrei a Playboy, versão americana. Para abrir um parêntese nesta crónica devo aqui referir que sou fã da Playboy. Para os totós que não sabem aquelas páginas são muito mais do que gajas. Algumas reportagens e entrevistas são literatura da boa. As miúdas não são literatura mas costumam ser boas. Quem tem dois dedos de testa folheia a revista e encontra arte. A versão brasileira é a melhor. A americana lê-se bem. A portuguesa está no bom caminho. Tirando os ensaios, ainda meio tímidos. Não há por aí ninguém que faça o favor de enviar a versão portuguesa? Fechado o parêntese.

Bela pizza num italiano desse mesmo Times Square e estou de volta à rua. À multidão que se acotovela nas passadeiras. Ao calor absurdo. Ao trânsito caótico. Fico imóvel durante um bom pedaço.Um mini David entre vários Golias de betão. Completamente absorto neste mundo que ainda não é meu. Quem sou. O que faço aqui. Para onde vou. Todo esse tipo de merdas. Uma espécie de assalto à mão armada à psique. Um tipo qualquer oferece-me um livro. A mim e a quem por ali anda. Folheio. Folheio. Folheio Népia. Impossível decifrar alguma coisa entre os caracteres chineses. Tenho sede. Muita sede. A roupa colada ao corpo. Húmida. Quero sentar-me à sombra e não há nesga de espaço nos bancos de jardim. Olho em redor e continuo a ver caras. Caras. E mais caras. Apetece-me dar um berro e dizer absurdamente que “quero dar um merguuuuuuuuulhoooooo num oceaaaaaaaaaano gelaaaaaaaaado”. Até que passam duas mini-saias esguias de saltos altos e tudo parece voltar à normalidade. É como se refrescasse. Mas apenas a visão. Se é esse o ponto de equilíbrio então é meio caminho andado.

Está na altura de regressar a Macau. Não sem antes comprar um chapéu militar do exército chinês num mercado com bugigangas em segunda mão. E não me perguntem porquê. Nem eu sei. Mas o chapéu é o máximo.

Dias mais tarde. Outra vez de folga. Atravesso a fronteira. A outra fronteira de Macau. Portas do Cerco. Do outro lado Zhuhai. China. Desta vez tive de levantar Yuans Renmimbi no Banco Nacional Ultramarino. Comprar um visto no posto fronteiriço. Dizer que sou professor em vez de jornalista. Preencher papéis. Ser fotografado. E finalmente o carimbo. Válido para três dias. O objectivo era o mesmo. Encontrar um iPhone desbloqueado. “Queres um iphone desbloqueado vai a Zhuhai. Em Zhuhai. Há de tudo. Tudo... falso”. Ouvi isto várias vezes.

Atravesso então a fronteira e a rigorosa autoridade chinesa e o primeiro impacto são as bicicletas. Centenas e centenas acopladas umas nas outras à porta do posto de fronteira. Dez metros adiante e uma escadaria afunila a multidão para um centro comercial subterrâneo. Vendedores em tendinhas acenam-me de forma frenética. Querem vender alguma coisa nem que seja uma água. Mais dez metros e começo a ouvir “iPhone, sir, iPhone”. Olho para as estantes e lá estão eles. Vários. Todos falsos. Impecavelmente falsos. “Chep sir, iPhone fol you”. Não cedo à primeira. Dou uma volta. Páro outra vez em frente a uma estante. “Wanna tly iPhone?” Claro que sim. Vilma. Assim se chamava a empregada. “Whele ale you flom?” Portugal, respondi. “Ah... Poltugal. Te amo. Obligado.” Isto só para início de conversa. A Vilma nunca tinha ido à Europa. Não fazia ideia onde era Portugal. Mostrou-me o iPhone, entusiasmada. “Vely good, vely good”. É caro. Rebatia eu. Caro era... 900 Yuens – 90 euros, mais coisa menos coisa. “No ploblem, no ploblem”, dizia ela. Nas mãos tinha uma máquina de calcular. Pediu para que escrevesse o preço que estava disposto a pagar. Teclei 500 Yuens. Ela escreveu 700. Eu 600. Negócio fechado. “One yeal walanty”. Um ano de garantia. “If ploblems you call me”. Palavra de Vilma. Ela própria memorizou o número no meu novo iPhone.

Tem touch screen. Tem aplicações. Tudo num software chinês, disponível em várias línguas. Em nenhum lado está escrito iPhone. Apenas Phone. Bastaram meia dúzia de minutos para perceber que continuo à procura de um verdadeiro. Esteticamente é igual. Funcionalmente nem por isso. Faltam algumas coisas importantes. Mas tem a sua piada. Em Zhuhai vendem-se a rodos. iPhones e tudo o que se possa imaginar. Malas Louis Vuiton, Gucci, Prada. Fatos Armani, Versace, Ermenegildo Zegna. Calças Hugo Boss, Dolce&Gabbana. Sapatos Ferragamo, Paul Smith, Converse. Relógios Rolex, Patek Philippe, Omega. DVD's de séries e filmes com as novidades mais recentes a um euro e meio. Imitações à primeira vista sem falhas. Um paraíso daquilo que parece mas não é.

Foi novamente uma visita de médico ao outro lado da fronteira. Irei a Zhuhai mais vezes. Tenho todo o tempo do mundo. Voltei com um relógio (sem marca) de cinco euros, um iPhone de trazer por casa e uma tela. Uma tela a óleo. Shangai pintado por um artista local. A melhor compra do dia. E o novo inquilino cá de casa.

*Crónica publicada no portal Observatório do Algarve em 7 de Agosto de 2009

Macau - Hong Kong (fotos)




Turbo Jet Macau - Hong Kong


Viagem Turbo Jet entre Macau e Hong Kong


Aterros para mais arranha-céus no skyline de Hong Kong


De baixo para cima em Hong Kong




Guarda-chuvas em Hong Kong


Shangai em óleo

iPhone e relógio de Zhuhai

Macau - Hong Kong (vídeo)

quarta-feira, 29 de julho de 2009

Brisas frescas

Tenho andado atarefado com o ritmo de trabalho. Entrar no ritmo de trabalho. Por isso, em jeito de novidade, deixo um artigo publicado no jornal Hoje Macau sobre a nova etapa neste lado do mundo.


Brisas Frescas

"Quem vem do mar arrasta sempre mais sal do que quem pisa terras de água doce. Talvez porque os olhos, tal como as ondas, viram a inocência de quem quer mudar o mundo e se deixar mudar por ele. Sem pressas de chegar a porto seguro. Desde 1 de Julho que chegou a Macau um vento fresco. E já entrou na sua casa. Rita Tavares-Teles e Pedro Maia são dois peixes à descoberta da Ásia (e de uma piscina para dar um mergulho), dois jornalistas à procura de histórias com gente dentro e com vontade de trabalhar pela cidade. São os novos (e bonitos) rostos do canal português da Televisão de Macau.

A história dos dois cruza-se em Paris. Dia 13 de Agosto de 2007: chega a última equipa a ser recrutada para o extinto canal de língua portuguesa para os lusófonos da Europa, a CLP-TV. Ele ia para o desporto, ela para o que houvesse. "Lembro-me do primeiro dia. Apanhei o metro com toda a antecedência para chegar a horas. Enganei-me. Fui na direcção oposta até ao fim da linha", conta Rita. O atraso afinal não existia (a equipa só entrava mais tarde), nem a ansiedade cegou o encantamento, o "impacto de sair do metro e ver a Torre Eiffel e pensar que todos os dias a ia voltar a ver". A memória "yin".

"Cheguei e caí de para-quedas no campeonato do mundo de râguebi. Lá consegui pôr os franceses a falar da equipa portuguesa, os Lobos, que participavam pela primeira vez", conta Pedro, o "yan" da memória. Ele andava atarantado há procura de casa; ela já há meio mês que alugara um tecto à distância. "Cheguei com a chave da minha casinha, o meu pai e o meu gato e instalei toda a gente", conta Rita.

Da cidade das luzes, saltaram para a cidade dos néons. Cada um tem o seu livro à espera de ser aberto e Portugal é o país que apetece pouco quando se está na casa dos vinte.
Ela evitou saber o que era Macau antes de cá chegar, mas também imaginou a cidade. "Estava à espera de uma Hong Kong em ponto pequeno. Não achei muito cosmopolita. Os prédios não estão arranjados, estas gaiolas...", aponta para as grades numa janela. "Para ser sincero, não me identifico com a confusão das ruas. Cada vez gosto mais de Macau, mas a poluição é coisa a que dificilmente me vou habituar", acrescenta Pedro.

Nem um, nem outro têm ar de gente de cidade. Há sempre mais sal e mais sol em quem vem do mar e o Algarve foi o último porto dos dois. "É tão estranho estar este calor todo e não ter uma praia", comenta Rita. "Desde que vi a piscina do hard Rock que sonho todas as noites com ela.Para as pessoas ligadas ao mar, é mais duro. Mas aqui há muito para viajar e muitas praias à volta", avança Pedro.

E, em Macau, o que prendeu o olhar de amêndoa da menina que queria ver a Torre Eiffel todos os dias? "Diz-se que os chineses não são muito dados ao tacto. Estive na Praça de Tap Seac e encontrei cães a brincar com os donos, filhos com os pais, irmãos mais velhos com os mais novos. Todos se riam. Encontrei uma praça de afectos. Foi um momento muito bom", descreve Rita. O conforto, continua, repete-se no olhar de quem a encara agora na rua. A estadia na Ásia servirá para aprender a devolver a empatia. "Tenho de encontrar o outro ponto de vista. O mundo não é uma bola ocidental. A Ásia é agora a minha casa. Já não sou a europeia para quem a China está longe", refere.

Também Pedro quer ser uma esponja. "Quero absorver uma cultura diferente. Quero viajar neste lado do planeta. Quero contribuir para que a TDM consiga refrescar a imagem que tem. Gente nova refresca sempre um canal", diz. Apesar de ter chegado à profissão por acidente (a inscrição na licenciatura deveu-se a uma antiga namorada), tomou-lhe o gosto. Começou num jornal regional do Algarve, esteve na SIC e TVI. Gosta de passar mensagens. Mal atracou em Macau e já queria ser útil à cidade e entrar no plano de protecção civil. "Estava em pulgas para que aparecesse um tufão de sinal oito", calhou-lhe um de nível três.

Já Rita, que fez escola no diário de Notícias, Público e TSF, é mulher de outras emoções. Voltamos ao "yin" e ao "yan". Na CLP-TV, gostava de sentir que as pessoas depositavam confiança em mim. Sabiam que eu ia transformar a vida delas, o esforço que fizeram, a relação com Portugal, numa boa peça de televisão. "Sabiam que eu ia respeitar aquela história", frisa.

Os dois estão habituados a dar notícias para quem está fora do país, mas no mundo novo tudo é diferente. Afinal, estão na cidade onde um dono de um café desenha um retrato para fazer companhia a uma nova jornalista que bebia sozinha um chá, e um rapaz que toda a vida foi do Vitória de Guimarães é convidado para vestir a camisola do Sporting e treinar para entrar na Bolinha. Macau sã assi; à Paris, c'est pas comme ça."

Por Sónia Nunes in Hoje Macau em 24 de Julho de 2009
http://www.hojemacau.com

sexta-feira, 17 de julho de 2009

Fui ao tapete!

Primeiro tiro no estômago. Hora de almoço. Restaurante chinês perto do trabalho. Arrisquei pedir o prato do dia. Uma espécie de galinha, com um molho castanho não sei de quê e arroz branco a acompanhar. A equação é simples: 'menu completamente chinês + empregadas de mesa que só falam chinês + cliente que não fala nem entende chinês = a cliente aos papéis'. Obviamente aos papéis. Tanto que queria um sumo de fruta e insistiam comigo que o almoço era servido com chá. Aparentemente chá quente. Gosto muito de chá. Mas não queria chá quente, como via na fotografia do menu. Queria sumo de fruta. Fresquinho. É impossível beber algo quente com este calor. Insisti uma. Duas. Três vezes e a resposta foi a mesma. A empregada pegava na lista, apontava para o prato e depois para o chá. Eu, apontava para o prato e depois para o sumo. Ela apontava de novo para o prato e depois para o chá. Eu sorria. Ela sorria. Eu não a entendia. Ela também não me entendia. Eu morria de fome. E se assim continuasse ela morreria de tédio. Deixei-me disso e venha então a galinha com o molho e o arroz mais o chá quente.

Nem dois minutos passaram e tenho a entrada na mesa. Uma mistura de gelatina verde com doce. Para entrada? Deixei-me disso e soube-me pela vida. Mas teria calhado melhor à sobremesa. Nem dois minutos passaram e tenho o prato na mesa. A galinha um tanto para o plana, espalmada. Parecia um bife. O molho em cima. O arroz por baixo. Plana e espalmada porquê? Não dava para distinguir asa, perna, peito, nada. Plana e espalmada. Deixei-me disso e ataquei. Um toque de coentros, cebolinho, pimenta, molho agridoce. Nada mau. O chá apareceu ao intervalo. Afinal era gelado. Ice-tea de ervas. E que maravilha de ice-tea. Para que conste, a fotografia do menu onde estava o chá mostrava um bule com água a ferver...

Regresso ao trabalho com uma leve indisposição. Dor de cabeça ligeira. Ligeira dor de estômago. Duas horas mais tarde o dobro da dor de cabeça. O dobro da dor de estômago. Três horas mais tarde, dor de cabeça insuportável. Dor de estômago insuportável. Pedi para sair mais cedo. Esperei um táxi na rua. Passaram uns dez. Nenhum livre. Passou um autocarro e em 10 minutos estava em casa. Não demorei muito a estrear a loiça da casa de banho. Sim... vomitei o almoço todo. Fui pela primeira vez ao tapete em Macau. Foi da comida? Não sei...

Para não correr o risco de enjoar o leitor, mudemos de assunto. Alguns dias antes arranjei casa. Bem perto do Largo do Real Senado, praça de traços portugueses no centro da cidade. Vi umas quantas. Em Macau e na Taipa. Na Taipa, atravessando uma das pontes, entrei em condomínios privados com piscina e health-club. Podia ter optado por aí. Mas preferi mergulhar no Macau profundo. Morar no centro. Vizinhança chinesa. Pelo menos neste primeiro ano de adaptação. Se é que algum dia estarei devidamente adaptado.

Mais central não podia ser. Rua Central. Algumas portas acima da Polícia Judiciária. Edifício Pou Kei. Todos os prédios têm nome próprio em Macau. Trata-se de um duplex, no quarto e último andar. Estilo ocidental. No andar de baixo está a sala, o quarto e uma casa de banho. No andar de cima, a cozinha, um pequeno lounge e outra casa de banho. Também um terraço com vista para as redondezas. Para os prédios do lado. Apartamentos onde as grades predominam. Grades de ferro. Austeras. Algumas varandas parecem gaiolas de pássaros humanos. Dizem-me que assim é por causa de uma vaga de assaltos nos anos 90. A vaga dos 'homens-aranha'. Vejo prédios com 30 e mais andares. Grades até ao último piso. É estranho. Esteticamente feio. Mas não tenho grades em casa. Foi uma das condições que impus ao porreiro e prestável promotor imobiliário. Português de Cascais. “Sem grades”. Tenho então um terraço com vista para os prédios vizinhos. É fim de tarde. O calor e a humidade continuam transcendentes. Ainda vislumbro uma colina onde jaz uma bonita igreja rodeada de árvores. Hei-de lá dar um salto.

O duplex é arranjadinho. Um pouco caro. 7000 patacas. Cerca de 700 euros. Não tive grande tempo nem paciência para procurar casa. Por isso teve mesmo de ser este. De todos os que vi foi o que mais me agradou. A vizinhança nos andares de baixo é toda chinesa. Cada porta tem um altarzito de um Deus qualquer e um pequeno incinerador. Ao lado dos altares há pratos com fruta. Alguma podre. Comida para os antepassados. Nos incineradores queimam-se notas falsas. Dinheiro para os mortos. Também abundam os pauzinhos de incenso. Já estou avisado que por altura do ano novo chinês são refeições inteiras junto a cada altar. Pratos quentes, em honra dos que já lá vão. Não quero imaginar o cheiro das escadas nessa altura.

Já tenho casa e isso é o mais importante. Casa e trabalho. Roupa lavada ainda não porque a máquina está em chinês. Terei de pedir ajuda. Faltavam lençóis e toalhas mas também já está resolvido. Lençóis padrão Louis Vuitton. Uma espectacular aquisição no Mercado Vermelho, uma espécie de feira de rua na zona Norte da cidade. Comprei Louis Vuitton só pelo gozo da coisa. Uma falsificação de qualidade impecável. Flawless. A 260 patacas o conjunto inteiro. Tentei ainda seleccionar um par de artigos para casa num armazém japonês mas não aguentei cinco minutos. Versão oriental de Tony Carreira aos berros nas colunas e prateleiras carregadas de bugigangas que não descortinei para o que servem.

Pelo meio tive ainda de recorrer à banca. Abrir conta. Aliás, duas contas. Uma no Banco Nacional Ultramarino – BNU – onde os portugueses normalmente depositam as patacas. Outra no Banco da China para onde seguem os reembolsos do seguro de saúde. [Tem estilo não tem? Ter uma conta no Banco da China? Eu acho que tem... mas não foi fácil]. Mais uma vez problemas de comunicação com o interlocutor. Pela frente uma muito simpática e paciente chinesa de meia-idade. Ria-se muito. Sempre que eu abria a boca ria-se como uma perdida. “Pedlo Joulgé? Ahahhahahahaha!”. “Jounauist? Ahahahahahaa”... e por aí fora. Falava um inglês atabalhoado. Falar nem é o termo correcto. Debitava meias palavras num inglês atabalhoado. Mas lá nos entendemos.

Tenho patacas no Banco da China. E a partir de agora o céu é o limite.


* Crónica publicada no portal Observatório do Algarve em 17 de Julho de 2009.

Crónica em imagens

Algumas imagens para ilustrar o artigo. Podem ver também o vídeo em baixo sobre a abertura de conta no Banco da China.

Lençóis Louis Vuitton do Mercado Vermelho!


Segundo andar da casa, com a varanda
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Vista para a colina onde está a pequena igreja.

Os tais altarzitos com incinerador, incenso, comida e fruta.

Exemplo das gaiolas humanas na Rua Central.