domingo, 28 de fevereiro de 2010

Belas mini-saias

Encontrei estas meninas por acaso no meio de um centro comercial na Taipa. Estilo dois-em-um. Artistas de mini-saia.


Este vídeo vale muito a pena!

terça-feira, 23 de fevereiro de 2010

Kung Hei Fat Choi e Lai-si Tau Loi


Aconteceu a primeira vez. Entrar no ano duas vezes. Uma em 2010. Outra no ano do Tigre. Em 2010 foi igual a tantas outras. Tirando a geografia e a companhia nos festejos. Jantar bem regado. Meia-noite. Champanhe. Fogo-de-artifício. Madrugada dançante. Gin-tónico a descer. Ressaca a condizer. Depois veio o Tigre. Mês e meio mais tarde. A verdadeira passagem de ano chinesa.

Começou dias antes. 7h00. Dormia como um menino em Macau. Quando acordo no meio de Kabul ou da Faixa de Gaza. Rá-tá-tá-tá-tá-tá-tá-tá-tá... pummmmm! Tenho sono leve. Mas esta merda acordava qualquer surdo. Foi dentro do prédio. Horas mais tarde comentei com alguém no trabalho e percebi tudo. O ano está a chegar ao fim e vai daí a vizinhança rebenta panchões de pólvora à porta de casa para espantar os espíritos. Assim eles não entram por ali dentro no ano novo. Parece-me justo. Entre descanso nocturno e espíritos à solta é de evitar a última hipótese. Apenas um pequeno problema. Os espíritos dos chineses nunca mais acabam.

Fui ver o fenómeno de perto. O Governo aqui da terra tem por hábito montar um recinto onde as pessoas se deslocam em romaria. Seja noite, seja dia. Faça chuva, ou faça sol. À falta de nome próprio chamemos-lhe 'panchódromo'. E o que é o 'panchódromo'? Um parque de diversões para crianças e adultos onde se vende pólvora. Muita pólvora! Desde aqueles inofensivos estalinhos de carnaval a rocket's de alcance considerável. Entre os tradicionais panchões, uns cartuchos de pólvora revestidos a papel vermelho. Rapidinhos ou intermináveis. A oferta é generosa. Compra quem quer. Pais incentivam filhos. Filhos choram por mais. Os pais compram mais. Ninguém regateia na hora de espantar espíritos. E há quem fume cigarros em ambiente explosivo apesar de ser proibido.

Vai-se ao 'panchódromo' como quem vai a Fátima pagar promessas. Nos altifalantes ouvem-se instruções de segurança em chinês, português e inglês. Só vi olhos-em-bico. É difícil descrever o som com palavras mas se fechar os olhos não é difícil imaginar um cenário de guerra. Guerra aos espíritos. Alguns dos engenhos assobiam. Outros começam tímidos e acabam potentes. Os tímpanos reclamam a cada berro de rebentamentos. Em termos de décibeis ganham os panchões. Ecoam por todo o lado. Iguais àquele que atravessou os meus sonhos. Rá-tá-tá-tá-tá-tá-tá-tá-tá... pummmmm!

Fiquei a ver o espectáculo durante um bom bocado. Fui apenas espectador. Intrigado. Entusiasmado. Às vezes aparvalhado. Quando pedaços de cana caiam a menos de um metro do local onde estava. Acendi pivetes de incenso e não rebentei nada. Não acredito em espíritos. O 'panchódromo' fez-se ver e ouvir durante dias. E durante dias a cidade foi absorvida por turistas. Hotéis esgotados. Casinos lotados. Ruas apinhadas. Restaurantes reservados há semanas. Gente. Gente. Gente que nunca mais acaba. Disseram-me que há dez anos fechava quase tudo durante os feriados do Ano Novo Chinês. Hoje o capitalismo fala mais alto. Há gente, há dinheiro, há negócio. E o chinês é danado para o negócio.

Lembram-se dos coelhos do Festival da Lua? Substituidos por tigres. Os chineses relacionam cada novo ano a um dos doze animais que teriam atendido à chamada de Buda para um encontro. Doze compareceram. Buda, feliz e contente da vida e comovido com a presença do rato, do búfalo, do tigre, do coelho, do dragão, da cobra, do cavalo, da cabra, do macaco, do cão e do javali... transformou-os nos signos da astrologia chinesa. Ficou para trás o búfalo e entramos então no ano do tigre. Em Macau há bonecada espalhada pela cidade. Rotundas. Avenidas. Praças. O felino anda à solta. E cuidado com as garras da fera. Respeitinho. O horóscopo chinês lança sérios avisos à navegação, num ano de tempestades. É, por exemplo, um ano impróprio para casamentos. Uma amiga chinesa adiou a cerimónia para 2011 por causa disso mesmo. Sobrou para o coelho. Poucos arriscam casar no Ano do Tigre. Adivinham-se matrimónios atribulados. Uns anteciparam. Outros adiaram. Padres suaram e fizeram cálculos às datas.

Curiosa é também a meteorologia por esta altura. Frio que dói. Húmido e gelado. Custa estar em casa. A qualidade de construção em Macau é privilégio dos edifícios mais recentes. A roupa não seca. As paredes brancas ganham cor. O guarda-roupa adquire vida própria. Um bolorzito aqui e ali. Um dia antes do ano novo andava de t-shirt. Passaram os três feriados e a Sibéria já mora um bocadinho mais longe. É sempre assim nesta altura do ano. Sempre. Não falha, garantem. Por isso e pela invasão massiva de visitantes muitos portugueses e alguns locais desaparecem de Macau e refugiam-se na Tailândia. Filipinas. Vietname. Malásia. Num-sítio-qualquer-onde-não-faça-frio-e-haja-praia-por-perto. Naquele conforto dos mergulhos em águas quentes. Embora viajar nesta altura seja um assalto à carteira. Esgota tudo em pouco tempo.

Eu fiquei. Queria ficar, ver e absorver a festa chinesa. Ver gente a queimar pivetes de incenso e notas falsas. Na rua e nos templos. A fortuna para os antepassados foi tanta que houve notícia de um incêndio num santuário. Nada de grave a registar. Vai-se pedindo sorte, felicidade, longevidade, riqueza... por aí fora. Sempre em tons de vermelho e dourado. Volta e meia entregam-se pequenos envelopes com uma nota lá dentro. O famoso lai-si. Deseja-se 'Kung Hei Fat Choi' – 'Feliz Ano Novo Lunar'. Responde-se com 'lai-si tau loi!' – 'passa para cá o lai-si!' Casados oferecem aos solteiros. Sinónimo de fortuna para ambos os lados. Cheira-me que a balança desiquilibra para o lado dos solteiros. Recebi uns quantos. Pelo meio dei por mim em almoços tradicionais de ano novo, com sorteios. O lucky draw. Num deles calhou-me um par de garrafas de tinto. Houve quem não levasse nada para casa. Houve quem levasse sofás de massagens. Viagens. E placas de fogão. Placas de fogão!? Sim. Placas de fogão.

O vinho serviu para celebrar a chegada daquele objecto de culto tão desejado. Desejado há meses. Finalmente chegou. Sim!!! Chegou. Adivinhem lá? Isso mesmo. O meu novinho iPhone. Prontinho a capturar mini-saias por essas ruas fora. Estou agora mais perto do sapiens-tecnológicus que não vive sem smartphone. Mais perto dos deuses... afinal acendi uns incensos. E depois desta crónica, mais perto de vocês. Dos amigos e da família. Fazem-me falta, calalho! Se esclevel em chinês não é palavlão, pois não?

Kung Hei Fat Choi

* Crónica publicada no portal Observatório do Algarve a 22 de Fevereiro de 2010.

Espantar espíritos no 'panchódromo'



Guerra aos espíritos no 'panchódromo'.


Barulho no 'panchódromo'.


Criançada e a pólvora.

Ano Novo Chinês em imagens

O Tigre à solta no Leal Senado.

"Há por aí algum espírito?"

Lanternas no Leal Senado.

Tendas de pólvora no 'panchódromo'.

Rocket's e derivados no 'panchódromo'.

Decoração no Hotel Lisboa.