terça-feira, 6 de abril de 2010
E porque hoje é terça-feira...
segunda-feira, 5 de abril de 2010
Era uma vez um céu azul...

Ahhhh... que saudade. De um dia de sol. Já lá vão alguns meses sem um dia inteiro de sol. Sem um céu azul. Nem me lembro quando vi pela última vez um céu azul. Macau deve ter o clima mais estranho do mundo. Uma espécie de neblina-chove-não-molha perdura por estas paragens. Há quem lhe chame o 'capacete' de Macau. Um 'capacete' deprimente à brava...
sábado, 3 de abril de 2010
segunda-feira, 15 de março de 2010
sexta-feira, 5 de março de 2010
Presentinho de fim-de-semana
domingo, 28 de fevereiro de 2010
Belas mini-saias
terça-feira, 23 de fevereiro de 2010
Kung Hei Fat Choi e Lai-si Tau Loi

Espantar espíritos no 'panchódromo'
Ano Novo Chinês em imagens

terça-feira, 1 de dezembro de 2009
quinta-feira, 22 de outubro de 2009
domingo, 18 de outubro de 2009
Televisão em movimento
sábado, 10 de outubro de 2009
Entre a lua de Macau e a piscina dos sonhos

Festival da Lua, coelhos e Hard Rock
Reportagens de olhos em bico!
sexta-feira, 7 de agosto de 2009
Hong Kong, Zhuhai e iPhone's

Macau - Hong Kong (fotos)
quarta-feira, 29 de julho de 2009
Brisas frescas

sexta-feira, 17 de julho de 2009
Fui ao tapete!
Primeiro tiro no estômago. Hora de almoço. Restaurante chinês perto do trabalho. Arrisquei pedir o prato do dia. Uma espécie de galinha, com um molho castanho não sei de quê e arroz branco a acompanhar. A equação é simples: 'menu completamente chinês + empregadas de mesa que só falam chinês + cliente que não fala nem entende chinês = a cliente aos papéis'. Obviamente aos papéis. Tanto que queria um sumo de fruta e insistiam comigo que o almoço era servido com chá. Aparentemente chá quente. Gosto muito de chá. Mas não queria chá quente, como via na fotografia do menu. Queria sumo de fruta. Fresquinho. É impossível beber algo quente com este calor. Insisti uma. Duas. Três vezes e a resposta foi a mesma. A empregada pegava na lista, apontava para o prato e depois para o chá. Eu, apontava para o prato e depois para o sumo. Ela apontava de novo para o prato e depois para o chá. Eu sorria. Ela sorria. Eu não a entendia. Ela também não me entendia. Eu morria de fome. E se assim continuasse ela morreria de tédio. Deixei-me disso e venha então a galinha com o molho e o arroz mais o chá quente.
Nem dois minutos passaram e tenho a entrada na mesa. Uma mistura de gelatina verde com doce. Para entrada? Deixei-me disso e soube-me pela vida. Mas teria calhado melhor à sobremesa. Nem dois minutos passaram e tenho o prato na mesa. A galinha um tanto para o plana, espalmada. Parecia um bife. O molho em cima. O arroz por baixo. Plana e espalmada porquê? Não dava para distinguir asa, perna, peito, nada. Plana e espalmada. Deixei-me disso e ataquei. Um toque de coentros, cebolinho, pimenta, molho agridoce. Nada mau. O chá apareceu ao intervalo. Afinal era gelado. Ice-tea de ervas. E que maravilha de ice-tea. Para que conste, a fotografia do menu onde estava o chá mostrava um bule com água a ferver...
Regresso ao trabalho com uma leve indisposição. Dor de cabeça ligeira. Ligeira dor de estômago. Duas horas mais tarde o dobro da dor de cabeça. O dobro da dor de estômago. Três horas mais tarde, dor de cabeça insuportável. Dor de estômago insuportável. Pedi para sair mais cedo. Esperei um táxi na rua. Passaram uns dez. Nenhum livre. Passou um autocarro e em 10 minutos estava em casa. Não demorei muito a estrear a loiça da casa de banho. Sim... vomitei o almoço todo. Fui pela primeira vez ao tapete em Macau. Foi da comida? Não sei...
Para não correr o risco de enjoar o leitor, mudemos de assunto. Alguns dias antes arranjei casa. Bem perto do Largo do Real Senado, praça de traços portugueses no centro da cidade. Vi umas quantas. Em Macau e na Taipa. Na Taipa, atravessando uma das pontes, entrei em condomínios privados com piscina e health-club. Podia ter optado por aí. Mas preferi mergulhar no Macau profundo. Morar no centro. Vizinhança chinesa. Pelo menos neste primeiro ano de adaptação. Se é que algum dia estarei devidamente adaptado.
Mais central não podia ser. Rua Central. Algumas portas acima da Polícia Judiciária. Edifício Pou Kei. Todos os prédios têm nome próprio em Macau. Trata-se de um duplex, no quarto e último andar. Estilo ocidental. No andar de baixo está a sala, o quarto e uma casa de banho. No andar de cima, a cozinha, um pequeno lounge e outra casa de banho. Também um terraço com vista para as redondezas. Para os prédios do lado. Apartamentos onde as grades predominam. Grades de ferro. Austeras. Algumas varandas parecem gaiolas de pássaros humanos. Dizem-me que assim é por causa de uma vaga de assaltos nos anos 90. A vaga dos 'homens-aranha'. Vejo prédios com 30 e mais andares. Grades até ao último piso. É estranho. Esteticamente feio. Mas não tenho grades em casa. Foi uma das condições que impus ao porreiro e prestável promotor imobiliário. Português de Cascais. “Sem grades”. Tenho então um terraço com vista para os prédios vizinhos. É fim de tarde. O calor e a humidade continuam transcendentes. Ainda vislumbro uma colina onde jaz uma bonita igreja rodeada de árvores. Hei-de lá dar um salto.
O duplex é arranjadinho. Um pouco caro. 7000 patacas. Cerca de 700 euros. Não tive grande tempo nem paciência para procurar casa. Por isso teve mesmo de ser este. De todos os que vi foi o que mais me agradou. A vizinhança nos andares de baixo é toda chinesa. Cada porta tem um altarzito de um Deus qualquer e um pequeno incinerador. Ao lado dos altares há pratos com fruta. Alguma podre. Comida para os antepassados. Nos incineradores queimam-se notas falsas. Dinheiro para os mortos. Também abundam os pauzinhos de incenso. Já estou avisado que por altura do ano novo chinês são refeições inteiras junto a cada altar. Pratos quentes, em honra dos que já lá vão. Não quero imaginar o cheiro das escadas nessa altura.
Já tenho casa e isso é o mais importante. Casa e trabalho. Roupa lavada ainda não porque a máquina está em chinês. Terei de pedir ajuda. Faltavam lençóis e toalhas mas também já está resolvido. Lençóis padrão Louis Vuitton. Uma espectacular aquisição no Mercado Vermelho, uma espécie de feira de rua na zona Norte da cidade. Comprei Louis Vuitton só pelo gozo da coisa. Uma falsificação de qualidade impecável. Flawless. A 260 patacas o conjunto inteiro. Tentei ainda seleccionar um par de artigos para casa num armazém japonês mas não aguentei cinco minutos. Versão oriental de Tony Carreira aos berros nas colunas e prateleiras carregadas de bugigangas que não descortinei para o que servem.
Pelo meio tive ainda de recorrer à banca. Abrir conta. Aliás, duas contas. Uma no Banco Nacional Ultramarino – BNU – onde os portugueses normalmente depositam as patacas. Outra no Banco da China para onde seguem os reembolsos do seguro de saúde. [Tem estilo não tem? Ter uma conta no Banco da China? Eu acho que tem... mas não foi fácil]. Mais uma vez problemas de comunicação com o interlocutor. Pela frente uma muito simpática e paciente chinesa de meia-idade. Ria-se muito. Sempre que eu abria a boca ria-se como uma perdida. “Pedlo Joulgé? Ahahhahahahaha!”. “Jounauist? Ahahahahahaa”... e por aí fora. Falava um inglês atabalhoado. Falar nem é o termo correcto. Debitava meias palavras num inglês atabalhoado. Mas lá nos entendemos.
Tenho patacas no Banco da China. E a partir de agora o céu é o limite.
* Crónica publicada no portal Observatório do Algarve em 17 de Julho de 2009.